Sororidade – Mito ou verdade sobre o crescimento coletivo

Sororidade – Mito ou verdade sobre o crescimento coletivo

A palavra sororidade ganhou espaço nas últimas décadas e hoje aparece em debates sobre feminismo, igualdade e empoderamento. Mas será que essa ideia de irmandade feminina é realmente um motor para o crescimento coletivo? Ou estaria sendo usada mais como um discurso simbólico, sem impacto real na vida das mulheres?

Este artigo busca aprofundar o tema, mostrando suas raízes históricas, sociais e culturais, além de analisar seus limites e potencialidades. A proposta é refletir se a sororidade é um mito ou uma verdade capaz de gerar transformações.


O que é sororidade?

Antes de tudo, precisamos entender o conceito. Sororidade vem do latim soror, que significa “irmã”. É uma ideia que sugere união, apoio e solidariedade entre mulheres. Seu objetivo é quebrar padrões de rivalidade e construir relações de cooperação.

Não se trata apenas de amizade. A sororidade carrega uma dimensão política. Ela reconhece que as mulheres enfrentam desafios estruturais semelhantes, como o machismo, a violência de gênero e as desigualdades de oportunidades. Assim, unir-se torna-se uma forma de resistência e luta coletiva.


De onde vem esse conceito?

A sororidade não é um termo novo. Ele aparece em escritos feministas desde a segunda metade do século XX. No Brasil, começou a circular com mais força a partir dos anos 2000, principalmente em movimentos sociais, universidades e grupos de discussão.

No entanto, sua prática existe há muito mais tempo. Mulheres já se apoiavam em redes de cuidado, desde comunidades tradicionais até espaços de militância. A diferença é que hoje o termo ganhou maior visibilidade e passou a ser incorporado inclusive no marketing e na cultura pop.


A promessa da sororidade

Quando pensamos na sororidade, a promessa é clara: mulheres unidas são mais fortes. Esse ideal aponta para o crescimento coletivo. Em outras palavras, se cada mulher se reconhece na dor e na luta da outra, há mais chances de conquistar espaços, direitos e respeito.

Por exemplo:

  • Apoiar uma colega de trabalho diante de um caso de assédio.

  • Incentivar mulheres empreendedoras a ocupar mercados dominados por homens.

  • Defender políticas públicas que reduzam desigualdades salariais.

Tudo isso gera impacto não apenas individual, mas coletivo.


O lado idealizado da sororidade

Entretanto, precisamos analisar com cuidado. Muitas vezes, a sororidade é tratada como um conceito romântico. Um ideal em que todas as mulheres, sem exceção, estariam naturalmente dispostas a se apoiar.

Na prática, sabemos que não é tão simples. Mulheres são diversas. Vivem realidades diferentes. Carregam culturas, crenças, classes sociais, cores de pele e orientações distintas. Isso gera conflitos de interesses.

Portanto, quando se diz que “todas as mulheres são irmãs”, é preciso cautela. Essa generalização pode invisibilizar desigualdades internas.


Sororidade e interseccionalidade

Aqui entra um ponto central: a interseccionalidade. Mulheres negras, indígenas, trans ou periféricas vivem desafios que não são os mesmos de mulheres brancas de classe média.

Logo, falar de sororidade exige reconhecer essas diferenças. O crescimento coletivo só acontece se as vozes historicamente silenciadas forem realmente ouvidas. Caso contrário, a sororidade pode virar apenas um discurso vazio, que beneficia algumas enquanto exclui outras.


Quando a sororidade é verdade

Apesar das limitações, há inúmeros exemplos em que a sororidade gera resultados concretos. Movimentos de mulheres ao redor do mundo mostram isso.

  • Movimento #MeToo: milhões de mulheres compartilharam experiências de abuso, revelando a dimensão do problema e pressionando mudanças no mercado de trabalho.

  • Marcha das Mulheres em diferentes países: articulações que trouxeram pautas para a política.

  • Coletivos locais: grupos de mães, redes de empreendedoras e associações comunitárias que transformam a vida de muitas mulheres.

Nesses casos, a união mostra sua força. A sororidade, portanto, não é mito. Ela pode ser verdade quando mobilizada de forma crítica e organizada.


Quando a sororidade vira mito

Por outro lado, a sororidade pode se transformar em um mito quando é usada apenas como slogan. Isso ocorre, por exemplo, em campanhas publicitárias que exploram o termo para vender produtos, mas não promovem mudanças reais nas condições das mulheres.

Além disso, é um mito quando se espera que todas as mulheres concordem em tudo. Divergências existem, e é natural que existam. O desafio é como lidar com elas sem perder a perspectiva coletiva.


Sororidade no ambiente de trabalho

Um campo em que a sororidade pode ser testada é o ambiente profissional. Nele, rivalidades são comuns. Muitas vezes, mulheres são colocadas em competição por cargos limitados.

Quando há práticas de sororidade, os resultados podem ser diferentes. Mentorias, apoio entre colegas e promoção de lideranças femininas fortalecem não apenas carreiras individuais, mas também a presença feminina em setores estratégicos.

No entanto, é importante reforçar: a sororidade não substitui políticas institucionais. Ela pode ser um catalisador, mas precisa caminhar junto com mudanças estruturais.


Sororidade nas redes sociais

Hoje, muito do debate acontece no ambiente digital. Redes sociais se tornaram palco de campanhas, denúncias e apoio entre mulheres.

Mas também são espaços de conflitos. Muitas vezes, mulheres criticam outras mulheres com a mesma dureza que criticariam homens. Isso mostra que a sororidade online é um campo de disputas. Pode ser uma ferramenta poderosa, mas também um lugar de desgaste.


A importância do cuidado coletivo

Um aspecto pouco debatido é o impacto emocional da sororidade. Apoiar outras mulheres não significa apenas lutar contra o machismo, mas também construir redes de cuidado.

Troca de experiências sobre maternidade, saúde mental, empreendedorismo e sexualidade são exemplos de como esse apoio pode fortalecer cada uma e, ao mesmo tempo, o grupo como um todo.

Esse cuidado coletivo é uma forma prática de sororidade. E é nele que muitas mulheres encontram força para continuar em contextos adversos.


O desafio da prática

Falar em sororidade é simples. O difícil é praticar. Isso exige escuta ativa, reconhecimento das diferenças e disposição para abrir mão de privilégios.

Por exemplo, uma mulher que ocupa cargo de liderança precisa estar disposta a apoiar outras que ainda não tiveram as mesmas oportunidades. Isso pode significar abrir espaço, indicar nomes e dividir conhecimento.

O crescimento coletivo não acontece por acaso. Ele precisa ser cultivado com ações concretas.


Críticas à sororidade

Algumas críticas apontam que a sororidade pode ser uma armadilha. Ao insistir que todas as mulheres devem se apoiar, o conceito pode gerar culpa ou pressão em situações em que há conflitos legítimos.

Além disso, há o risco de despolitizar a luta feminista. Se a sororidade se resume a frases bonitas, ela perde seu caráter de transformação estrutural.

Portanto, é necessário manter o conceito vivo, mas também crítico.


Sororidade como ferramenta de transformação

Apesar das críticas, a sororidade segue como uma ferramenta poderosa. Ela não resolve todos os problemas, mas contribui para fortalecer movimentos e dar visibilidade a questões antes ignoradas.

No campo político, ajuda a pressionar por mudanças em leis e políticas públicas. No campo social, reforça a importância de redes de apoio. E no campo cultural, combate estereótipos que colocam mulheres como rivais.


O futuro da sororidade

O futuro da sororidade depende de como será praticada. Se ficar restrita ao discurso superficial, pode perder força. Mas, se for encarada como prática crítica e consciente, pode continuar sendo motor de mudanças.

Isso exige responsabilidade de cada mulher e também de instituições, empresas e governos. Afinal, o crescimento coletivo não depende apenas de apoio individual, mas também de condições estruturais.


Mito ou verdade?

Então, afinal, a sororidade é mito ou verdade sobre o crescimento coletivo? A resposta não é única.

Ela é mito quando usada como rótulo vazio, quando ignora diferenças ou quando é transformada em produto de consumo.
Ela é verdade quando praticada de forma consciente, crítica e inclusiva, reconhecendo que as mulheres não são todas iguais, mas podem se unir em torno de causas comuns.

Portanto, a sororidade é uma construção. Não é automática. Depende de escolhas, de escuta e de ação. Quando cultivada, pode sim gerar crescimento coletivo e transformar realidades.

O desafio está em não deixá-la virar apenas um ideal distante, mas em trazê-la para a vida prática, onde cada gesto de apoio pode fazer diferença.

Tags:

No responses yet

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sair da versão mobile
Políticas de privacidade

Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações de cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.

Cookies estritamente necessários

Tab Content: A configuração "cookies estritamente necessários" deve estar ativada o tempo todo para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies. Você não pode desabilitar essa opção, mas poderá customizar as configurações de outros cookies terceiros.

Cookies de terceiros

Este site usa o Google Analytics para coletar informações anônimas, como o número de visitantes do site e as páginas mais populares. Manter este cookie habilitado nos ajuda a melhorar nosso site.

Cookies de Anúncios

Usamos o pixel do Facebook/Instagram, LinkedIn, Pinterest, Google/Youtube e TikTok neste site. Manter essa configuração fará com que possamos veicular anúncios customizados de acordo com sua preferência.